Voltamos já

Mark
002 — Barlavento
26 Fev — 26 Mar 2022

Manuel Fonseca
Sebastião Borges
Vicente Mateus
Rajadas de coisas trazidas pelo vento abanam-me a mesinha de cabeceira.
O garfo a bater no prato vazio, faz do jantar percussão.
Terá havido um tempo em que as pessoas conjugavam o verbo percutir?
O bico da caneta sem tinta cria ondas na folha em branco.
A pressão alta põe à prova os materiais. Knock on wood.
À procura de cedências, atéque o material desista.
Água mole em pedra dura. A rebarbadora também e mais depressa.
A resistência tenta suportar a pressãozinha! Aguenta, aguenta.
Gravam-se  traços nas superficies, é assim com os cactos e com as paredes. A parte de trás da folha marcada por ideias pensadas ao contrário.
As tempestades têm nomes.
Vi um pedaço do telhado esvoaçante. A culpada, a Eunice.
Peço desculpa mas de momento só consigo pensar no meu trabalho.
Tenho outras coisas para fazer.  As ideias vêm em direções contrárias, empurrando-me para o meio do oceano.
No fim do dia não me mexo, nem para umlado nem para o outro.
E a guarda costeira bem que me avisou: sem prioridades não vais a lado nenhum. Palavras de merda deixam-nos na mesma.
Vêm-me à cabeça todos os meus amigos, todos prontos para ajudar.
A mesinha de cabeceira continua a bater e vai desfazendo a parede como o vento faz às rochas. Daqui a milhões de anos o meu quarto será a praia todas as noites.
Confio no desgaste dos ossos.
Só fica o que faz falta.
E o pó que resta vai me batendo na vela,  na esperança de que me leve a mim e aosmeus amigos até dias bonitos.

Inauguração

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Mark